quarta-feira, setembro 12, 2007

Retorno, lento, muito lento

Serra do Caramulo -Autor: Mário Neves
CARTA IMAGINADA OU TALVEZ NÃO

27/11/85 – 5h 47m

Bom dia! Como vais tu nesta manhã que precinto fria? Que loucura podes dizer! Sim, mas é destas loucuras que eu vou conseguindo tirar algo de bom, que penso que existe nesta vida, louca e irreal.
M. foi uma noite dura esta que passou por mim. Lutei terrivelmente comigo próprio, pensando na tremenda realidade de estar tão perto de ti, e não poder estar contigo. Mas que fazer …
Um dia mais tarde na loucura, talvez de sonhos, de noites belas e tristes, quem dirá, eu possa estar contigo se é que isso seja bom.
Bom, mas então:
M. já acordei!! Para ti:
Quantas noites como esta eu te vi linda e terna, amei o teu rosto lindo e ansioso, na ternura do teu bom coração. Tu és louca, misteriosa, mas aquele toque tão subtil, de ternura, paixão, quando sabes que outros sofrem, talvez tanto ou menos que tu, mas tu, tu M., gostas de te dar, de dar o teu corpo e alma desde que isso seja a alegria que esse alguém necessita.
Amo-te por ti mesma, não por aquilo que por vezes acontece, mas só isso, essa medida louca que tens de amar, sem ser amada, de querer sem ser querida, de consolar, sem seres consolada, eu te quero.
Um dia, nestes dias, que eu tenho um minuto para pensar, naquilo que eu gostaria, se é que me é permitido pensar assim, eu diria para comigo: como seria bom, viver cada minuto da vida, fazendo aquilo que na minha perspectiva é belo, é bom, é agradável, é melhor!
Só que cada minuto desta vida de porcaria, eu vivo, fazendo quase tudo ao contrário, lutando até contra mim, me humilhando, me perguntando porque vivo!...
Na loucura dos Deuses, que me põem assim. Mas que fazer … foi esta a predestinação dos Deuses, viver para ser aquilo que eles querem que nós sejamos.
Imagina M.:
O que talvez eu gostasse – É ESTA A NOSSA HISTÓRIA
Um dia muito tarde, um jovem, talvez na idade, mas de espírito confuso, mas belo, que vivia muito, pensou mudar, pensou que isso não era o mundo para o qual tinha nascido. Então, achou que teria que fazer algo, mesmo que isso fosse cruel para esse mundo em que vivia, que o fizesse sentir gente, gente que ama, mas que ama de uma forma integra e total. E assim, viu que a única saída possível era somente uma – FUGIR
Fugir para onde?
Como?
Pensou, pensou, e depois disse para consigo:
É ISSO:
Vou falar com a M., ela vai vir comigo, ela também tem um pouco da angústia que eu sinto, por este mundo perverso e louco, é isso. De contente reflectiu:
Olha bem, longe da civilização vou arranjar um cantinho, que nós mesmos possamos por à nossa maneira e será lá que iremos viver. Precisamos para isso somente de algumas coisas: arranjar o local, mudar para lá e levar tudo aquilo que pensamos ser necessário à sobrevivência, e ir.
Mudámos, realmente, era um local deveras lindo, saudável, agradável, até aos olhos mais frios e impuros do mundo. Somente uma pequena cabana, bem decorada, muito confortável, com aquela lareira doida, que os serões tornava românticos e a minha viola, que embevecia o silêncio da noite.
Que fazíamos:
Somente nos amávamos, de uma forma terrivelmente bela, cada minuto era uma entrega total de ambos. Líamos, escrevíamos, contávamos histórias, histórias daquele mundo doido em que tínhamos vivido e porque não o nosso misticismo aqui criado, original e belo.
Penso que seria muito bom.
Até amanhã