quinta-feira, agosto 24, 2006

Para pensar

Então a raposa apareceu.
"Bom dia", disse a raposa.
"Bom dia", o Pequeno Príncipe respondeu educadamente. "Quem és tu? Tu és tão bonita."
"Eu sou uma raposa", disse a raposa.
"Vem brincar comigo", propôs o Pequeno Príncipe. "Eu estou tão triste".
"Eu não posso brincar contigo", disse a raposa. "Eu não estou cativada".
"O que significada isso – cativar?"
"É uma coisa que as pessoas frequentemente se esquecem", disse a raposa.
"Significa estabelecer laços".
"Sim" disse a raposa. "Para mim tu és apenas um menino e eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens nenhuma necessidade de mim. Para ti eu não sou nada mais do que uma raposa, mas se tu me cativares então nós precisaremos um do outro".
A raposa olhou fixamente para o Pequeno Príncipe durante muito tempo e disse: "Por favor cativa-me."
"O que eu devo fazer para te cativar?" perguntou o Pequeno Príncipe.
"Deves ser muito paciente". Disse a raposa.
"Primeiro vais sentar-te a uma pequena distância de mim e não vais dizer nada. Palavras são fontes de desentendimento. Mas todos os dias tu te irás sentar cada vez mais perto de mim."
No dia seguinte o principezinho voltou.
"Teria sido melhor voltares à mesma hora", disse a raposa.
"Se tu vens por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais me sentirei feliz. Ás quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens por exemplo a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos".
Então o Pequeno Príncipe cativou a raposa e depois chegou a hora da partida dele –
"Oh!" disse a raposa. "Eu vou chorar".
"A culpa é tua", disse o Pequeno Príncipe, "mas foste tu que quiseste que eu te cativasse".
"Adeus", disse o Pequeno Príncipe.
"Adeus", disse a raposa. "E agora eu vou-te contar um segredo: nós só podemos ver perfeitamente com o coração; o que é essencial é invisível aos olhos. Os homens têm esquecido esta verdade. Mas tu não deves esquecê-la. Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas."

(Saint-Exupéry)

2 comentários:

APC disse...

E jamais se deverá despertar uma paixão para satisfazer um capricho.
Alguém disse isto, não me lembro quem. Depois passo por cá e completo. Mas que penso muito nisto, é verdade...

_+*Ælitis*+_ disse...

Adorei adorei adorei este livro mas so o entendi melhor quando ja estava mais crescidinha :)