No contexto de um Portugal agrário e proto-indústrial, com um governo liderado pelos Cabrais que criaram as matrizes prediais, as juntas de saúde proibiram os enterros dentro dos templos, surgindo os primeiros sentimentos de revolta e consternação. O país estava descontente, a população passava dificuldades e, para cúmulo a profunda reforma fiscal levara ao aumento dos impostos.Este cenário conduziu a que em vários pontos do país a população enfrentasse a tropa do Governo.O 1º movimento revolucionário, de 1846, neste concelho parecia, em princípio, não ter a gravidade à qual depois se chegou, se bem que as revoltosas do Minho sejam sempre mais temidas que as de outras regiões. Porque será?O gosto pela preservação das tradições conduziram a desconfianças e actos de rejeição perante as inovações impostas por Costa Cabral.A atitude de oposição e ódio que o povo votava o Governo tornava-se cada vez mais pronunciado e ameaçador. A proibição dos enterros dentro dos templos exaltou os ânimos do povo, que por falta de instrução, não conhecia a utilidade dessa medida sanitária, nem queria alteração alguma aos antigos costumes.Os enterros, na Póvoa de Lanhoso, foram a chama das manifestações conduzidas pelo sexo feminino.A 20 de Janeiro de 1846 teve lugar na freguesia de Fontarcada, o enterramento de José Joaquim Ribeiro, que no cumprimento da lei devia ser sepultado no adro, visto não haver ainda cemitério. As mulheres, ao saberem disso, reuniram-se a fim de conduzirem o falecido ao mosteiro de Fontarcada e efectuarem o enterro. No dia seguinte ao préstito fúnebre, dispuseram-se as mulheres para a exumação do cadáver, mas o regedor da freguesia, Jerónimo Fernandes de Castro, conseguiu que desistissem. No dia 5 de Fevereiro, do mesmo ano, registou-se idêntico tumulto. Falecera Maria Joaquina da Silva, que transgredindo a lei foi sepultada no interior do templo.A manifestação do grupo de mulheres, armadas com chuços, sacholas e forcados, no dia 22 de Março, no funeral de Custódia Teresa, e os insultos por estas perpetrados “ Viva a Rainha! Abaixo os Cabrais e as leis novas”, deu origem a uma ordem de captura pelo regedor da freguesia. Detidas algumas das revoltosas e levadas para a Vila da Póvoa de Lanhoso, logo as restantes, ao que tudo indica mais de 300, armadas de fouces e varapaus deixaram o mosteiro de Fontarcada para livrarem as suas companheiras. Uma das revoltosas que mais se sobressaia era Maria Angélica de Simães. Trazia a ela presas na cintura duas pistolas, sendo a única que se apresentava com armas de fogo. Encaminharam-se para os paços do concelho descarregando repetidos golpes de machado na porta, entrando no salão de audiências, onde arrombaram um alçapão e libertaram as mulheres. Dirigiram-se depois para casa do administrador não o encontrando, saciaram a sua vingança queimando muita da papelada inútil.Apesar de todas as controvérsias, no dia 5 de Abril, dá-se outro enterro , ao qual comparece o grupo de mulheres que sepultam o cadáver dentro do templo. Deste acto resultou a captura de Josefa Caetana, que sujeita a interrogatório disse chamar-se Maria da Fonte. O administrador, em vista do arrombamento da cadeia, facto que podia repetir-se, resolveu enviar directamente para Braga a criminosa, vigiada por 6 cabos da polícia. A notícia desta resolução levou o mulherio a enfrentar os guardas, que se viram obrigados a ceder.Tendo em conta os factos ocorridos o administrador entendeu que não podia continuar a exercer o seu cargo. Para seu lugar foi nomeado o bacharel Salvador António da Cunha Rocha, da Casa do Requeixo, freguesia de Fontarcada, exaltando de alegria as revoltosas, porque sendo o novo administrador mais popular, esperavam que fosse com elas mais benevolente.Mas quem foi Maria da Fonte?Muitos defendem que foi o nome dado a um grupo generalizado de mulheres, sem que houvesse qualquer uma a destacar-se do conjunto, outros defendem que foi uma mulher específica.Para alguns como José Paixão Bastos, a verdadeira Maria da Fonte chamava-se Maria Luísa Balaio, que lhe chamavam Maria da Fonte. Era proprietária de uma hospedaria “Maria da Fonte”, ponto onde ocorriam as revoltosas, onde logo lhes aparecia Maria Luísa Balaio, que ao que tudo indica nunca tomou parte activa na revolução feminina. Josefa Caetano, Maria Angélica de Simães, para o povo de Fontarcada a verdadeira Maria da Fonte, ou uma outra mulher de nome Maria, são outras hipóteses que ao longo dos anos se têm colocado.No fundo, apesar de todas as teorias, Maria da Fonte foi um amplo combate pela liberdade e pela justiça social, muito mais do que um protesto contra a proibição dos enterros nas igrejas, que não deixou de ser enunciado na literatura através de Camilo Castelo Branco, na música por Midosi e Frondoni “Hino da Maria da Fonte”, nas artes plásticas por José Augusto Távora que pintou Maria da Fonte na parede de uma sala do clube Povoense.Maria da Fonte, um enigma que continua. Afinal que rosto tinha Maria da Fonte? ------------------ (retirado do site http://www.atpl.pt/mariadafonte.htm) |
Sonhos muitos, realidades muitas, mas, e existe sempre um mas.. em qualquer lugar.. em qualquer situação...
terça-feira, maio 16, 2006
Maria da Fonte
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Um comentário:
Tinha rosto de quem luta pelo que acredita.
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